A presidente Dilma Rousseff terá, na sexta-feira, 24, uma sessão exclusiva de
meia hora para falar ao público do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.
Ela será apresentada pelo fundador e presidente do Fórum, Klaus Schwab, e terá
uma chance rara de expor sua política a uma audiência altamente qualificada e
formada por empresários, profissionais e políticos de dezenas de países.
Poderá falar de oportunidades de negócios no Brasil e tentar atrair
investimentos. Poderá, além disso, tentar recompor a imagem de um governo
marcado por maus resultados econômicos e pressionado por agências de
classificação de risco.
Seu antecessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi à reunião logo
depois da primeira posse, em janeiro de 2003. Tentou vender a imagem de
governante confiável e foi elogiado. Dilma preferiu esnobar o Fórum nos três
primeiros anos de mandato e recusar os convites. Vai aparecer, agora, no pior
momento de seu governo.
A inflação continua alta, com projeções na vizinhança de 6%. O balanço de
pagamentos vai mal e a conta comercial teria fechado no vermelho, em 2013, sem
os US$ 7,74 bilhões da exportação fictícia de sete plataformas de petróleo. As
contas públicas foram embelezadas no fim do ano com receitas atípicas e grande
volume de pagamentos diferidos. Além disso, o Fundo Monetário Internacional e o
Banco Mundial preveem para o Brasil, neste ano, crescimento inferior à média
global.
Sessões especiais, como a programada para a presidente, são realizadas no
principal e mais amplo auditório do centro de congressos de Davos. O convidado
geralmente expõe suas ideias sem debate, responde a algumas perguntas de Klaus
Schwab e, havendo tempo, recebe questões da plateia. O bom resultado é quase
garantido, se a pessoa estiver bem preparada e se os perguntadores forem mais ou
menos moderados.
No ano passado, uma dessas sessões foi destinada ao primeiro-ministro russo
Dmitri Medvedev. Ele enfrentou um interrogatório preparado por especialistas,
mas resistiu razoavelmente. Neste ano, sessões especiais foram programadas
também para os primeiros-ministros do Japão, Shinzo Abe, e do Reino Unido, David
Cameron.
A presidente Dilma Rousseff chega nesta quinta-feira, 23, à Suíça e passa o
dia em Zurique. Tem encontros com o presidente da Fifa, Josef Blatter, e com os
presidentes da Saab, fabricante do caça comprado pelo governo, da Unilever, da
Novartis e do banco de investimentos Merrill Lynch. Amanhã, em Davos,
participará da sessão especial e de um encontro com um grande grupo de
empresários. Faltaram lugares, segundo se informou na quarta-feira, 22, para
alguns interessados.
Sem brilho
Embora ainda possa atrair investidores, a economia brasileira perdeu boa
parte do brilho exibido até há alguns anos. Cresceu muito menos do que a de
outros emergentes e acumulou desequilíbrios maiores que os de outros países em
desenvolvimento. Durante os três primeiros anos da atual gestão, o Produto
Interno Bruto (PIB) deve ter aumentado em média cerca de 2% ao ano, incluindo
uma estimativa de 2,3% para 2013.
Nem esse desempenho fraco, visível desde o primeiro ano de governo, impediu a
presidente e sua equipe de esnobar o Fórum. Davos é um lugar para quem busca
projeção, disse no ano passado o chanceler Antônio Patriota, para explicar a
ausência da presidente e de colegas da área econômica. Essa explicação foi dada
a dois jornalistas brasileiros.
Ambos haviam participado no dia anterior de um encontro com o secretário do
Tesouro americano, Timothy Geithner. O representante americano para o comércio
exterior, Ron Kirk, também se apresentou em Davos. Como principal negociador
comercial de seu governo, Kirk desempenhava uma das funções atribuídas no Brasil
ao ministro de Relações Exteriores. Era, portanto, do lado americano, o
interlocutor de Patriota. Por que Washington precisaria de dois ministros em
Davos, quando Brasília se contentava com um?
Talvez Washington avalie o Fórum com mais entusiasmo. Quando o governo do
presidente George W. Bush preparava a invasão do Iraque, o secretário de Estado,
Collin Powell, foi a Davos para explicar a decisão de seu governo.
Falou numa
sessão ampla a acadêmicos, políticos, empresários e especialistas de diversos
setores e de várias nacionalidades. A opinião dessa gente importa? Para governos
de grandes potências, sim. Não para o governo da presidente Dilma Rousseff -
pelo menos até há poucos meses.
Fonte: Estado de S.
Paulo.
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