Os jovens que tomaram as ruas em 2013 naquelas que ficaram conhecidas como as Jornadas de Junho levavam em seus cartazes inúmeras reivindicações como a luta contra o aumento das tarifas de ônibus e a defesa da qualidade dos serviços públicos, que há muito carecem de investimentos no Brasil. Dentre tantas reivindicações, o fim da corrupção na política figurou entre as principais.
A corrupção é uma prática que aumenta ainda mais a desigualdade social da qual nosso país é campeão. Ela é produto de uma racionalidade política voltada para os interesses privados que caracteriza as relações entre Estado e a elite econômica no Brasil.
Quando o recurso público, produto de impostos pagos em sua maioria com o trabalho dos mais pobres, é desviado para o ralo da corrupção são as áreas sociais que são vilipendiadas, ou seja, os mais pobres perdem duas vezes. A injustiça tributária – que onera, por meio do ICMS, em 40% uma família trabalhadora que compra lápis para seus filhos estudarem e em 0% as grandes fortunas – se torna uma dupla injustiça quando o dinheiro público é desviado. Os partidos da direita sempre se beneficiaram da ideia do político que “rouba, mas faz”. A novidade é que os que combatiam esta ideia entraram no balcão de negócios. Será inevitável? Penso que não. Mas por que isso acontece?
Em primeiro lugar, pelas alianças eleitorais espúrias. Temos insistido que este não é um problema menor, ou uma garantia de “governabilidade”, como muitos insistem. Quando uma aliança é feita sem critérios programáticos, sobrepõe-se a lógica da troca de interesses e da divisão das secretarias como se fossem feudos dos partidos.
Além disso, muitos dos partidos que historicamente compuseram a esquerda social brasileira e que se autointitulam defensores dos direitos da maioria do povo, assumiram essa lógica de construção de maiorias, seja nas eleições, seja nos governos, a partir de uma soma de partidos que nada tem em comum com sua tradição. Mas como sabemos, um todo nunca é apenas a soma de suas partes, as alianças sem critérios trazem consigo a forma de operar da velha política e do balcão de negócios que decorre dela. Só se explica Sarney, Maluf, Calheiros e Collor estarem na base do governo Dilma e o PTB aliado com Tarso a partir desse raciocínio político.
As consequências desse processo têm dois efeitos que vão completamente contra a defesa dos direitos da maioria e das bandeiras da esquerda: o primeiro deles é a fagocitose que o regime político faz com as organizações construídas pelo movimento dos trabalhadores com muita luta e suor, fazendo com que estes passem a defender os interesses de pouquíssimos privilegiados que, a partir de seu poder econômico, dirigem os rumos da política. O caso do “mensalão” e corrupção na Petrobrás são ilustrativos.
O segundo efeito é o ceticismo da população com relação à atividade política. Passa-se a ver os políticos como “todos iguais” de forma separada dos interesses do povo, esvaziando dessa forma a esperança de mudanças profundas e a disposição por lutar por elas.
Mas para se ter realmente uma nova política no país, para além de caras novas, é preciso ter programas que respondam às necessidades dos trabalhadores e não à sanha de fazer alianças com mais ou menos partidos. É preciso, acima de tudo, acreditar nas próprias forças populares e buscar o caminho da mudança, pois a corrupção é uma companheira inseparável das injustiças e da desigualdade social.
Fernanda Melchionna – Vereadora do PSOL em Porto Alegre