De
há muito vimos sendo preparados para conviver com o atual estado de miséria
financeira do Estado do Rio Grande do Sul.
Lembremos que a cada novo Governo que assume o Piratini, as mazelas financeiras
do Estado são expostas e a cada novo Governo elas simplesmente recrudescem;
isso é: o Governo sucedido foi suficientemente incompetente para não ter
qualquer equacionamento da dívida, como foi suficientemente competente para
agravá-la.
Mas
afinal, quem é o genitor da miséria financeira do Estado? Sem dúvidas é a má
gestão administrativa, política e financeira. É também o ineficiente sistema de
controle, a omissão fiscalizatória, as trocas de favores entre Executivo e os
órgãos de controle do Estado.
Nesse
sentido, podemos afirmar que os órgãos de controle do Estado do RS são
co-autores da miserabilidade financeira gaúcha, por omissão, incorrendo na
culpa in vigilando, quiçá até num dolo
eventual, na prevaricação.
A
estrutura de controle do Estado do RS conta com três grandes órgãos de
controle: a CAGE – Contadoria e Auditoria Geral do Estado, o TCE – Tribunal de
Contas do Estado e, a Assembléia Legislativa do Estado.
As
omissões, quiçá prevaricação, dos órgãos de controle do Estado do RS, a CAGE, o
TCE e a Assembléia Legislativa são contundentes ao longo do tempo, porque os
três têm o mesmo desiderato institucional: fiscalizar e controlar as finanças
do Estado. E assim mesmo alcançamos o status
da miserabilidade.
A
dúvida que emerge é singela. Ou, a CAGE, o TCE e a Assembléia Legislativa
incorreram em omissão, quiçá prevaricação, no seu munus
institucional, ou esses órgãos, por incompetência, simplesmente não sabem o que
é fiscalizar e controlar as finanças do Estado.
A
CAGE existe desde 1948 e como auditoria
desde 1970, e
tem como missão institucional zelar pela boa e regular gestão dos recursos
públicos, exercendo a fiscalização
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Estado,
verificando a legalidade dos atos de gestão, avaliando os resultados, quanto à
eficácia e à eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial no
âmbito da Administração Pública Estadual, exercendo o controle das operações de
crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres do Estado,
controlando e acompanhando a execução orçamentária, realizando auditoria
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial na Administração
Direta, realizando o levantamento do Balanço Geral do Estado e do Balanço
Consolidado do Setor Público Estadual, assim como analisar, interpretar e
avaliar os elementos integrantes destes e dos balanços das entidades públicas
estaduais, e, elaborar a prestação de contas anual do Governador do Estado,
dentre outras competências.
E
assim mesmo alcançamos o status
da miserabilidade. Resta claro que faltou seriedade ou sobrou incompetência.
O
TCE/RS existe como fiscalizador da Administração Pública desde 1945, cumprindo exercer, com a Assembléia Legislativa, na forma da
Constituição, o controle externo das contas dos Poderes do Estado emitir
parecer prévio sobre as contas do Governador, realizar inspeções e auditorias
de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e de
gestão ambiental, acompanhando a execução de programas de trabalho e avaliando
a eficiência e eficácia dos sistemas de controle interno dos órgãos e entidades
fiscalizados, determinar providências acauteladoras do erário em qualquer
expediente submetido à sua apreciação.
E
assim mesmo alcançamos o status
da miserabilidade. Resta claro que faltou seriedade ou sobrou incompetência.
A Assembléia
Legislativa do Estado do RS existe nos moldes atuais desde 1935 e tem como
missão legislar e fiscalizar os atos do Poder Executivo, competindo-lhe
exclusivamente, dentre outras atribuições previstas na Constituição Estadual,
apreciar os relatórios do Governador, sobre a execução dos planos de governo,
julgar, anualmente, as contas do Governador, exercer a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial do Estado, quanto à legalidade,
legitimidade, moralidade, publicidade, eficiência, eficácia,
economicidade.
E assim
mesmo alcançamos o status da miserabilidade.
Assim,
se o genitor da miséria financeira do Estado é a recorrente má
gestão administrativa, política e financeira de muitos Governos, quem criou
esse monstro financeiro, quem o alimentou por mais de meio século é, sem dúvida
alguma, esse ineficiente sistema de controle, é a omissão fiscalizatória, é
essa imoral condescendência, incoerente e desalinhada com a situação financeira
do Estado, ano após ano, Governo após Governo.
Por
fim, o elenco de atores dessa tragédia financeira não se limita aos atores
protagonistas do dever de fiscalizar. Nesse enredo, também contracenam atores coadjuvantes,
representados pela profusão de lideranças sindicais de todas as categorias de
servidores públicos do Estado do RS, cuja grande habilidade é a capacidade de
mobilização reivindicatória, enquanto assistem, complacentemente, o Estado
soçobrar em dívidas impagáveis.
Até parece que o Estado do RS revive Lilliput, a ilha fictícia do
romance As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, onde
inexistem valores éticos sociais e o jogo político não tem regras, ou, quem
sabe esses atores gostariam de ir para Pasargada, lá também poderiam desfrutar
dos favores do rei.
MILTON
PINHEIRO - Advogado
A corrupção institucionalizada do Sistema da Dívida é o grande problema a ser enfrentado. Há um mesmo esquema em funcionamento em todos os casos de endividamento público: a utilização do endividamento como mecanismo de subtração de recursos públicos que deveriam estar sendo utilizados para investimentos. Há todo um sistema legal que dá suporte a algo que é abertamente inconstitucional. A corrupção é essencial para o sistema da dívida, não só porque ele é corrupto em si, mas porque ela desvia o foco da grande corrupção institucionalizada desse sistema
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