Pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira, 8, pela Transparência
Internacional, apura que 81% dos brasileiros consideram os partidos políticos
“corruptos ou muito corruptos”, Isso quer dizer que quatro de cada cinco pessoas
põem em xeque a base da representação política no País. Os números do
levantamento concluído em março traduzem uma insatisfação que ficou explícita
três meses depois, com a série de manifestações que se alastraram pelas cidades
brasileiras.
Se comparados à percepção de moradores de outras áreas do globo, fica claro
que os brasileiros estão mesmo descontentes. Na média dos 107 países que
participaram da pesquisa organizada pela organização não governamental, algo em
torno de 65% dizem que os partidos são “corruptos ou muito corruptos”. A mesma
pesquisa - feita em 2010 pela Transparência Internacional - mostra que, no
Brasil, a situação se agravou: três anos atrás, o índice de descontentamento
sobre o tema era de 74%.
Os dados nacionais sobre percepção de corrupção - obtidos após entrevistas
com 2.002 pessoas - mostram também que, depois dos partidos, o Congresso é a
segunda instituição mais desacreditada. Cerca de 72% da população o classificam
como “corrupto ou muito corrupto”. Na média mundial - foram 114 mil entrevistas
-, o índice é de 57%.
A pesquisa ainda perguntou se os entrevistados consideravam eficientes as
medidas dos governos contra a corrupção: 56% dos brasileiros disseram que não;
54% da média mundial também. “O desprestígio dos partidos e dos políticos é
muito grande, disse Alejandro Salas, um dos autores do informe da Transparência
Internacional. “O resultado é triste. Os partidos políticos são pilares da
democracia”, disse.
Na avaliação de Salas, o que tem sido positivo no Brasil é que as pessoas que
saíram às ruas para se manifestar fizeram uma ligação direta da corrupção na
classe política ao fato de não haver serviços públicos adequados. “As pessoas
fizeram a relação direta entre a corrupção e a qualidade de vida que têm”,
disse. “Para muitos, o mais dramático é que o Brasil cresceu nos últimos anos.
Mas as pessoas perceberam que os benefícios não foram compartilhados e que parte
disso ocorreu por conta da corrupção.”
Caixa-preta
Segundo o autor do informe, os indicadores mostram que os brasileiros estão
cansados de não saber como o poder é administrado, quem paga por ele, quem
recebe e quem se beneficia. “Os partidos são como caixas pretas e, para mudar
essa percepção, uma reforma importante será dar mais transparência ao
financiamento dos partidos.”
Ainda segundo a avaliação de Salas, que é diretor regional da ONG para as
Américas, as manifestações nas ruas no Brasil colocaram “uma pressão enorme”
sobre os políticos. “Depois das manifestações no Brasil, se os partidos não
mudarem, vão acabar de se afundar”, afirmou. O representante da TI alerta também
para a possível aparição e fortalecimento de líderes carismáticos por causa do
descrédito dos partidos políticos. Conclui, porém, que o resultado das
manifestações de junho é positivo. “O que ocorreu dá esperança.”
Os dados mostram que, no Brasil, 81% dos entrevistados disseram que podem
fazer a diferença no combate à corrupção. Na médias dos países envolvidos na
pesquisa, o índice é de 65%. Numa escala de 1 a 5, onde cinco é o grau máximo de
corrupção, o setor público brasileiro atingiu nota 4,6. “A taxa é mais elevada
que no resto da América Latina”, afirmou Salas.
Cerca de 70% dos entrevistados no Brasil acreditam que a corrupção no setor
público é “muito séria”, contra uma média mundial de apenas 50%.
Em torno de 77% dos brasileiros admitem que ter “contatos” na máquina publica
é “importante” para garantir um atendimento. A percepção em relação ao setor
privado se inverte. No Brasil, apenas 35% das pessoas acham que as empresas são
“corruptas ou muito corruptas”. Fora do País, a média é superior: 45%.
Disposição
Outra constatação da Transparência Internacional é que, no Brasil, a
proporção de pessoas disposta a denunciar a corrupção é mais baixa que a média
mundial: 68% diante de 80%. 44% dos entrevistados disseram que não denunciam por
medo, enquanto outros 42% alertam que suas ações não teriam qualquer resultado.
“Se o governo estiver sendo sincero de que quer combater a corrupção, precisa
criar mecanismos que permitam a denúncia e que protejam as pessoas”, disse
Salas.
Entre os que aceitam fazer a denúncia, a maioria revela que para tal usaria
os jornais, e não os órgãos oficiais do governo.
Um a cada quatro entrevistados no Brasil admitiu que pagou propinas nos
últimos dez meses para ter acesso a um serviço público. “O pagamento de propinas
continua muito alto. Mas as pessoas acreditam que têm o poder para parar isso”,
disse Huguette Labelle, presidente da Transparência Internacional. Para ela, os
políticos devem dar o exemplo, tornando públicos a sua renda e os ativos de
família.
Outras instituições
Depois dos partidos e do Congresso, a polícia aparece na pesquisa como a
instituição mais desacreditada. Cerca de 70% dos brasileiros a classificam como
“corrupta ou muito corrupta”. No resto do mundo, o índice é de 60%.
O Judiciário, entre os brasileiros, tem mais crédito do que entre a população
dos outros países. Aqui 50% apontam a instituição como “corrupta ou muito
corrupta”. Fora, o índice é de 56%. As Forças Armadas aparecem com índice baixo
de percepção de corrupção. No Brasil é de 30% e na média dos outros países da
pesquisa da Transparência Internacional, 34%. As informações são do jornal
O Estado de S.
Paulo.
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